quarta-feira, 6 de maio de 2009

Estudante supera síndrome com alegria de viver

Quem olha para a jovem de cabelos louros, calça jeans e uma camiseta baby look rosa, sentada na segunda fileira da sala de aula de uma universidade de Araçatuba, não imagina a história de vida que ela carrega. Vítima do medicamento Talidomida, Mara Thaís de Souza Martins, 18 anos, possui uma má formação nos braços e nas pernas provocada pelo uso do medicamento que leva o mesmo nome e que foi amplamente utilizado por mulheres, até 1997, quando acabou proibido por meio de uma portaria do Ministério da Saúde.

O remédio foi comercializado como um sedativo e hipnótico com poucos efeitos colaterais. A indústria farmacêutica que o desenvolveu acreditou que o medicamento era tão seguro que passou a prescrevê-lo a mulheres grávidas, para combater enjoos matinais. O problema é que, algum tempo depois, começaram a nascer crianças com má formação dos membros superiores e inferiores. Após um estudo aprofundado, ficou confirmado que a deficiência era resultado de efeitos colaterais causados pelo remédio.

A universitária Thaís, como prefere ser chamada, afirma que teve uma infância normal e que a síndrome nunca lhe trouxe qualquer limitação. “Eu brincava com meus primos, pulava e subia em árvores. Fazia tudo o que uma criança normal faz”, diz com sorriso aberto.

A estudante do primeiro semestre do curso de Administração do Unitoledo destaca que não se recorda de nenhum problema ocorrido em sua infância ou adolescência, em razão da Síndrome. No período de escolher um curso superior, prestou vestibular em pelo menos quatro faculdades de administração e de direito. “Eu passei nos quatro vestibulares que prestei, mas escolhi a Toledo, porque ela oferece melhores condições para quem é portador de deficiência. Daí imagino que o ensino também é melhor”, explicou.

BALADAS
A estudante demonstra uma alegria de viver contagiante. Ao ser questionada sobre as baladas, muito comuns na juventude, Thaís destaca que vai para todas. “Onde os meninos vão (e todos os nossos amigos são meninos), nós vamos. Tudo pode”, diz, sorrindo. Sobre os namorados, brincou: “Tive vários. Nunca foi problema. Tive um escondido, mas não conta isso pra minha mãe (risos). Hoje estou ficando com um rapaz. Ele me trata com muito carinho e sem qualquer preconceito”.

Bem arrumada, usando brincos e batom, Thaís demonstra ser vaidosa e muito independente. “Eu mesmo faço escova, me arrumo, passo batom e tudo o mais. Não tem problema. Normal”, diz. O maior sonho da estudante é trabalhar na indústria alimentícia Nestlé. “Meu avô trabalhou lá e eu acho uma empresa boa. Já visitei a fábrica e desejo trabalhar lá um dia”.

Na sala de aula ela é rodeada de amigas. Em nenhum momento, a estudante sentiu a presença do preconceito, muito comum nessas circunstâncias. “Essa palavra não existe no meu vocabulário”, diz, com segurança.

DIFERENTE
Thais nunca se achou uma pessoa “diferente”. O único momento em que sentiu que isso estava incomodando foi aos 12 anos, quando pediu à mãe que lhe comprasse as próteses para suas pernas, pois ela não queria que as pessoas “olhassem para baixo, para conversar comigo. A partir daí, tudo ficou normal novamente”, disse.

Ainda sobre o preconceito, quando questionada se a sociedade lhe impôs alguma dificuldade, ela é categórica. “Você não pode ficar pensando no que os outros pensam sobre você. Se dependesse da sociedade, eu não ia fazer nada. Ia ficar em casa”, afirmou. Para ela, “o limite é o céu”.

Nenhum comentário: